O primeiro final de semana da Bienal do Livro, no Anhembi, anunciava a atração mais esperada por estudantes de jornalismo. Sob o comando de Caco Barcellos, Armando Antenore, Alberto Dines, Raphael Prado e Lílian Romão, a palestra “Para ser repórter” deu uma aula de jornalismo, porém, poucos foram os universitários que conseguiram entrar para assistir.
Duas horas antes da palestra, programada para começar às 15h, no salão denominado Território Livre, o público tentava retirar a senha que daria acesso ao local, sem sucesso, pois essas chegaram ao fim rapidamente, para decepção e revolta de muitos estudantes que tiveram que se contentar em ver o grande ídolo pelo lado de fora do vidro.
Tudo pronto para o bate-papo, o jornalista do Observatório da Imprensa, Alberto Dines, abriu a conversa explicando a essência da profissão: “ser repórter é exercer a arte de contar o que viu”. E, em contrapartida, disse que a tecnologia está substituindo algo fundamental para a profissão: o contato e a troca de vivência, deixando as redações menos calorosas.
“Antigamente, tínhamos a vivência humana, nossos melhores arquivos eram as pessoas. Esse privilégio da tecnologia é válido quando temos profissionais mais velhos ao nosso lado para trocarmos experiências”, concluiu.
Em suas reportagens, Barcellos é referência quando o assunto é troca de vivências e deixa claro que para ser um bom repórter é preciso gastar a sola do sapato. Para exemplificar tais experiências, ele contou detalhes dos bastidores dos livros “Abusado” e “Rota 66”, quando conversou com cerca de 250 traficantes do morro Dona Marta, no Rio de Janeiro para produzir a grande reportagem.
“Você observar a cena da reportagem é essencial, é uma coisa fascinante quem vai a rua de peito aberto e sem juízo de valores”, disse Barcellos ao explicar que o repórter deve multiplicar seus olhares para tentar contar uma história.
Seguindo os passos de Caco, Raphael Prado, membro da equipe do Profissão Repórter, procura unir o jornalismo com a paixão pelas novas tecnologias da comunicação. Integrante da equipe há quase um ano, Prado é editor de vídeos e conteúdo do site do programa. Em poucas palavras, ele resumiu que o trabalho do jornalista precisa ser bem feito, independente da plataforma ou da mídia.
Com um pouco menos de bagagem curricular que os outros participantes, mas com palavras firmes e muita paixão, a jovem educomunicadora, Lilian Romão, foi aplaudida em seu discurso, o qual dizia que ainda vale a pena lutar pela melhora na qualidade da profissão e pela igualdade social. Lilian é coordenadora da Viração, revista desenvolvida com jovens ligados a projetos sociais, como ONGs e movimentos estudantis.
Os participantes fizeram perguntas e puderam interagir com os convidados antes da palestra chegar ao fim. Antes de encerrar, Barcellos deixou um conselho aos jovens repórteres que estão entrando agora para o mercado de trabalho.
“Lutem com todo empenho e dedicação, tenham certeza de que estão na profissão certa e que são apaixonados pelo que fazem. Embora tenha uma quantidade imensa de gente que é formada todos os anos nas universidades brasileiras, eu não sei se é tão grande assim o número de pessoas que são apaixonadas”.
E encerra aconselhando os estudantes de jornalismo a não deixarem morrer o espírito de repórter. Pois, para ele, o jovem jornalista ainda vale a pena. “Eles ainda querem mudar o mundo”.
* Matéria realizada para o jornal Entrevista da UniSantos, em 2010.
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